
SER ÍNDIO OU NÃO ÍNDIO?
Tomei o metrô rumo à praça da Sé. Eram meus primeiros dias em São Paulo, e eu gostava de andar de metrô e ônibus. (...)
Nessa ocasião a que me refiro, ouvi o seguinte diálogo entre duas senhoras que me olharam de cima para baixo quando entrei no metrô:
_ Você viu aquele moço? Parece que é índio - disse a senhora A.
_É, parece. Mas eu não tenho tanta certeza assim. Não viu que ele usa calça jeans? Não é possível que ele seja índio usando roupa de branco. Acho que ele não é índio de verdade - retrucou a senhora B.
_É, pode ser.Mas você viu o cabelo dele? É lisinho, lisinho. Só índio tem cabelo assim, desse jeito. Acho que ele é índio, sim - defendeu-me a senhora A.
- Sei não. Você viu que ele usa relógio? Índio vê a hora olhando pro tempo. O relógio do ìndio é o sol, a lua, as estrelas... Não é possível que ele seja índio- argumentou a senhora B.
-Mas ele tem olho puxado-disse a senhora A.
- E também usa sapatos ironizou a senhora B.
-Mas tem maçãs do rosto muito salientes. Só os índios têm rosto desse jeito. (...)
- Não acredito. Não existem mais índios puros - afirmou cheia de sabedoria a senhora B. - Afinal, como um índio poderia estar andando de metrô? Índio de verdade mora na floresta. carrega arco e flechas, caça e pesca e planta mandioca. Acho que não é índio coisa nenhuma.

Munduruku, Daniel. Histórias de índio. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1996.
Um comentário:
Ola! Sou Mara Valdene, professora e estudante... Um dos livros que iniciava todos os anos o trabalho de leitura com minha turma, era o livro do Daniel Mundurucu, pelo escritor(sua história) e pelas historias como a do boto, matinta e outras, pensem em acalmar menino levado e com as historias dele. Só que minha filha pediu que doaçe para a escolinha dela. Mais estou muito feliz em recer esse comentário!Parabéns!
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